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  • Marcia Telles

Sobre a Campanha Criança Não Namora Nem de Brincadeira!


Esta campanha está sendo feita por psicólogos que não leram e que negam os postulados de Freud, e ainda, que negam escutar na clínica as crianças em sua singularidade, pois disso elas falam, sonham, brincam, e muito, de serem adultas e de namorarem!


A campanha é também abraçada por conselhos tutelares que, por não saberem abordar os adultos, ousam silenciar as crianças, inclusive no mais precioso, no brincar. São justamente eles quem deveriam lutar pelo direito da criança à fala e brincadeira e não o inverso. Silenciar a brincadeira seria trágico a qualquer aparelho psíquico.


Dizem que a campanha é para prevenir abusos sexuais e, desta forma, sem querer querendo culpabilizam as crianças pelas não repressões que os adultos deveriam dar conta neles mesmo. A mesma lógica daqueles que nos estupros colocam a culpa na roupa, na vítima e não no agressor.


Os adultos é que não devem namorar as crianças, as "novinhas", os "novinhos", são eles que devem mostrar o corte desta impossibilidade demarcada pela cultura.


A criança descobrindo sua sexualidade tateará o que é possível e o que não é e o adulto deverá orientá-la, não combatê-la. Compete ao adulto, pois é neste que a criança, em afetos e perguntas, direciona o que lhes desassossegam. Não é culpa da criança que seduz a seu modo, conhecendo a vida, convocando orientações. Ela, conhecendo sua sexualidade, precisa de conversas, de acolhimento, de quem a oriente, não que a negue extremamente.


Orientar não é todo reprimir. A linguagem da ternura, como diz Ferenczi, atravessa os afetos das crianças e a da paixão mortífera toca nos adultos que mistura as coisas. Os adultos que deveriam orientar, abusam e as culpabilizam.


A campanha faz este pacto de culpabilizar a criança e esquecer do agressor. Estes, os adultos, devem responsabilizar-se e não colocar a culpa na criança.


É fato que criança namora (lembre de você) por brincadeira. Queira você ou não, não só por brincadeira, mas também por fantasias com namorados que nem sabem que elas os namoram, com personagens, com a vida. Não se regula as fantasias, este é justamente local dela e do brincar, o de não ser regulamentado.


Quando crianças começam a descobrir seus corpos com outras crianças, deve-se orientar, falar sobre. A sexualidade é algo que carece de ser falada, escutada, trabalhada e orientada. Se a criança não brinca de namorar, de imitar a vida, de realizar desejos, de remontar o que lhe falta, no futuro o fará sem orientação.


O adulto é que não namora a criança! Deve-se respeitar o lugar da criança, de ser criança brincando com as coisas do mundo sob orientação acolhedora, de orientar que esta tome certos cuidados, de apresentar-lhe limites e de escutar o que esta diz de "namoro".


Há que saber que o inverso, o adulto que "topa" namorar a criança, que este está no abuso de poder. Ah, mas a campanha queria dizer outra coisa. Em psicanálise costumamos ouvir o que se diz. E se diz algo querendo dizer outro, chamamos isso de lapso, ato falho de confesso desejo.


Infelizmente estamos ainda muito despreparado para este tema, mas isso não justifica calar as crianças em sua infância, de descoberta sexual e de vida em geral, para não nos incomodarem. Por fim, seria mais fiel a campanha levar algo assim: Adultos não namoram crianças! E a lei não está brincando!





Fonte: E. L. Andrade (Psicanalista)



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