Quando eu era criança, como espectadora da Xuxa, acreditava numa tríade que ela proferia: "querer-poder-conseguir". A ideia propagada (ou ao menos capturada por mim) era a de que, se quiséssemos muito algo, esse algo poderia acontecer. “Tudo pode ser, só basta acreditar”, dizia a canção da Xuxa.
Nessa lógica se não conseguimos algo ( e tudo pode ser!) é porque não estamos querendo ou acreditando “direito”.
Foi só depois do meu encontro com a psicanálise que descobri que esse modo de pensar é um horror.
Essa tríade catastrófica dos anos oitenta e noventa reedita hoje ao infinito e além. Pululam livros que propagam ideias como as de que temos que ter pensamentos postitvos o tempo todo, ser gratidão e good vibes, independente do que aconteça – isso sem contar essa proliferação de “treinadores” que disseminam essas ideias atualmente. Mesmo dentro da psicánalise, se bobear, a gente encontra leituras assim, ouvindo a pergunta freudiana “qual é a sua responsabilidade na desordem que você se queixa?” numa pegada acusatória: psicálise selvagem.
Nessas modalidades de (me falta a palavra agora....qual o oposto de “tratamento?) A vertente mortífera do superego é despertada.
Se o sujeito já se sentia mal consigo mesmo e isso produzia sofrimento, esses pensamentos-mantras levam o sujeito a uma cobrança ainda maior em relação a si mesmo e à sua produtividade e podem piorar o quadro.
Grande parte do sofrimento humano vem do excesso de nossas auto exigências. Levar alguém a exigir ainda mais de si, pode ser verdadeiramente desastroso. E não adianta
dizer: “você precisa se cobrar menos”. É mais uma cobrança.
Alguém deveria avisar esse pessoal que exite uma coisinha chamada castração, que nos mostra que, bom ... a gente não pode tudo. E ainda bem!
Fonte: A.S.
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